A criatividade não significa pintar bem nem se resume a ter “ideias giras”: é um modo de pensar, questionar, relacionar, reinventar e de ver além do que já existe. Quando somos criativos, estamos abertos a desconstruir padrões, misturar conhecimentos diferentes, brincar com novas possibilidades e propor soluções originais para problemas antigos. Num mundo onde enfrentamos desafios sociais, ambientais e políticos complexos (desigualdades, crise climática, injustiças), a criatividade é um super-poder. Permite imaginar futuros diferentes: descobrir formas de nos adaptarmos às mudanças e construir comunidades mais inclusivas, justas e conscientes.
Criar para cuidar: criatividade e responsabilidade social
Usar a criatividade para o bem comum significa, por exemplo, reutilizar materiais (como no upcycling) para reduzir o desperdício, transformar espaços degradados em zonas de convívio, criar hortas comunitárias, murais artísticos, clubes artísticos ou de debate — formas de intervenção que reforçam a identidade de uma comunidade e promovem o bem-estar coletivo. Além disso, a arte e a criatividade podem servir para dar voz a grupos marginalizados, abrir espaços de diálogo, sensibilizar pessoas para causas como justiça social, igualdade e sustentabilidade. A criatividade não é um luxo individual, mas uma ferramenta de transformação social e um convite à ação coletiva.
Quando o Estado e a sociedade apoiam a criação — iniciativas em Portugal
Em Portugal, há diversos programas que estimulam a criatividade, a arte e a participação cultural dos jovens.
- O Programa Escolhas, gerido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), aposta fortemente na arte, cultura e desporto como instrumentos de inclusão social e de desenvolvimento de competências, criatividade e pensamento crítico entre jovens, principalmente de contextos vulneráveis.
- O Programa Jovens Criadores — também promovido pelo IPDJ em parceria com outras entidades culturais — convida jovens artistas, até aos 30 anos, a apresentar projetos em áreas como música, dança, artes visuais, design, vídeo, ilustração, moda, literatura, e mais. Os selecionados têm a possibilidade de mostrar o seu trabalho numa mostra nacional, ganhando visibilidade e apoio institucional. Mais informação em https://ipdj.gov.pt/programa-jovens-criadores.
- O Plano Nacional das Artes disponibiliza recursos pedagógicos e materiais educativos que cruzam educação formal com cultura, artes e património — ajudando professores e escolas a integrar atividades artísticas e culturais no ensino curricular.
- Mais recentemente, o II Plano Nacional para a Juventude (II PNJ) definiu a cultura e a “criação livre” como um dos eixos estratégicos para jovens ao longo dos próximos anos — ou seja, está prevista uma aposta institucional mais consistente no acesso à cultura e no estímulo à criatividade jovem em todo o país.
Estes exemplos mostram que há e pode haver um compromisso com a cultura juvenil, e que os jovens devem ter acesso a oportunidades para criar, experimentar e participar.
Política, criatividade e participação: um círculo virtuoso
A criatividade não é apenas individual, como também tem impacto coletivo. Quando jovens participam em projetos culturais, escrevem, pintam, tocam, debatem, fazem teatro ou música, estão também a desenvolver voz, identidade e cidadania. Através da arte e da expressão criativa, podem questionar normas, denunciar injustiças, sensibilizar outros, mobilizar a comunidade e promover a transformação social. Por outro lado, decisões políticas, como investir em cultura, descentralizar recursos, apoiar associações juvenis, garantir acesso a espaços culturais fora dos grandes centros, influenciam diretamente quem pode criar e onde se desenvolve a massa crítica. Por isso, é essencial haver políticas que facilitem o acesso à cultura e incentivem a participação ativa. Quando escolas, municípios ou o Estado oferecem apoio, reconhecem a importância da arte e da criatividade como bem público.
Escolas mais criativas: transformar a aprendizagem e tornar os alunos protagonistas
Para que a criatividade floresça de verdade, as escolas têm um papel crucial. Mas para isso não basta ter aulas teóricas, é preciso envolver os alunos em projetos práticos, experimentações, colaboração, investigação, expressões artísticas, debates sobre temas reais, conexão com a sociedade. Em Portugal existem projetos como o Plano Nacional de Cinema que oferece às escolas um portal gratuito com filmes (portugueses e internacionais) e propostas de atividades de criação artística; ou «A minha escola adota um museu, um palácio, um monumento…», que consiste num concurso escolar que estimula o conhecimento e valorização dos espaços museológicos e património cultural. Podes investigar se a tua escola é aderente a alguma destas iniciativas!
Mas podes também imaginar uma aula de História em que os alunos fazem curtas-metragens sobre problemas sociais; ou um projeto de Biologia ligado ao meio ambiente que crie murais ou maquetes reutilizando materiais do dia-a-dia; ou clubes de escrita, fotografia, debate. Assim, a escola deixa de ser apenas um espaço de “passar matéria” e torna-se um lugar de criação, descoberta e crítica — um treino para a cidadania e para a mudança.
Conclusão: criatividade como caminho para um futuro transformado
A criatividade — tanto individual como coletiva — é uma semente de mudança. Quando a alimentamos, com oportunidades, apoios e vontade, podemos transformar espaços, relações e realidades. As iniciativas governamentais em Portugal já mostram que é possível investir nessa transformação, garantindo aos jovens o direito à cultura, à expressão e à participação. Mas o poder está também em cada um de nós: decidir criar, partilhar, envolver. Se escolas, jovens, comunidades, associações e Estado caminharem juntos, a criatividade pode ser uma força real para construir sociedades mais justas, humanas e cheias de possibilidades. Ao imaginar e agir, criamos o futuro e fazemos dele um lugar onde mais vozes têm espaço e mais vidas encontram sentido.

